Com Andreas Philippopoulos-Mihalopoulos, Angelika Hinterbrandner, Gustavo Ciríaco, Lucinda Correia, Marta Rema, Sepideh Karami.
Conceção, direção artística e cenário de Lucinda Correia e Marta Rema.
Os últimos anos mostraram-nos a que velocidade o mundo e a realidade podem mudar drasticamente. Mesmo que o meio ambiente tenha sido sempre dinâmico, que o início das alterações climáticas tenha tido origem antes da Revolução Industrial, que as doenças zoonóticas sempre tenham afetado a humanidade, ou que a pobreza urbana, os regimes totalitários e até a desinformação sejam repetições da história.
O que estamos a testemunhar neste momento é a intensificação destes processos, a ponto de se terem tornado emergências interconectadas e sem precedentes. A forma como os seres humanos se relacionam entre si e com os seres não-humanos está a ser severamente testada e o significado de conceitos como humanidade e democracia estão a ser postos à prova.
As estruturas materiais, mas, sobretudo, as imateriais, tais como a religião, a economia ou as grandes narrativas culturais, nas quais a coexistência humana tem vindo a ser moldada, e com base nas quais a humanidade tem vindo a formar a sua consciência, passaram a ser sistemas autónomos de manutenção do status quo e de controlo coletivo. Como espécie, somos caracterizados por essas estruturas, inclusive quando elas falham em definir-nos.
Estes conceitos e narrativas autonomizaram-se para além de nós e têm de ser revistos e reformulados, tendo, porém, em conta que a suposta excecionalidade de uma espécie, criou pontos cegos que levaram a um beco sem saída, onde a clássica perspetiva antrópica do Iluminismo, acabou por fomentar a submissão geral e estrutural ao interesse humano.
O projeto Matéria Incomum quer dar um passo atrás. Da cultura e da forma para a natureza e a matéria, para repensar as práticas extrativistas, as economias de mercado e as narrativas institucionalizadas de forma coletiva e transversal, de forma a poder engendrar estratégias de ação que questionem a atual cultura da construção e os seus modos de produção. Neste movimento da matéria, e uma vez que estamos a viver uma crise socioambiental e política, é necessário imaginar práticas responsáveis, com discursos ajustados para possibilitar a ocorrência de novos sentidos da coexistência, coabitação e convivência.
Angelika Hinterbrandner trabalha com uma variedade de formatos e de colaborações dentro e fora do campo da arquitetura. A sua investigação centra-se no quadro político e legislativo da financeirização da habitação e nas implicações da crise climática no ambiente construído. Faz parte da Kontextur e é investigadora e professora na ETH Zurich, no Laboratório de Património Arquitetónico e Sustentabilidade. Em 2022, com outros cinco agentes das áreas da arquitetura, urbanismo, investigação e comunicação, iniciou o spaceforfuture.org.
Andreas Philippopoulos-Mihalopoulos é investigador, artista e escritor. Participou na 58ª Bienal de Arte de Veneza (2019), na 16ª Bienal de Arquitetura de Veneza (2016) e em intervenções na Tate Modern, no Inhotim – Instituto de Arte Contemporânea, Brasil, na Danish The Royal Cast Collection, Dinamarca, na Royal Music Academy, Suécia, bem como noutras instituições. Expôs no College of Communication, Londres, na The Arebyte Gallery, no Palais de Tokyo, entre outros. É professor de Direito e Teoria na Universidade de Westminster e fundador e diretor do The Westminster Law & Theory Lab. The Book of Water, é o seu primeiro livro de ficção.
Gustavo Ciríaco é coreógrafo e artista conceptual com um trabalho entre as artes performativas e as artes da imagem, a performance, a arquitetura, a antropologia e o paisagismo. Inicia a sua carreira em Ciências Políticas (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais-UFRJ) e deriva para a dança e para os projetos contextuais (Escola Angel Vianna). Tem atuado no Brasil, na América Latina, na Europa e mais recentemente na Ásia e no Oriente Médio. O seu trabalho tem sido acolhido em festivais, eventos, galerias, museus e instituições de arte e educação e tem participado também em projetos de exposição. Desde 2018, é artista pesquisador associado ao programa THIRD (DAS-Universidade, Amsterdão), com a pesquisa Cobertos pelo Céu.
Sepideh Karami é arquiteta, escritora e investigadora com doutoramento em Arquitetura e Estudos Críticos (KTH, Suécia). É professora de Arquitetura na Universidade de Edimburgo, Escola de Arquitetura e Arquitetura Paisagista (ESALA). Tem formação em arquitetura pela Universidade de Ciência e Tecnologia, Irão (MA, 2002) e pela Universidade de Chalmers, Suécia. Através da investigação artística, trabalha métodos experimentais e abordagens interdisciplinares na intersecção da arquitetura, artes performativas, literatura e geologia, com o ethos da descolonização, política menor e criticidade a partir do interior. Tem apresentado e exposto o seu trabalho em conferências e plataformas internacionais, e é publicada em revistas especializadas com revisão por pares.
Lucinda Correia é arquiteta (FA-UTL), investigadora e pós-graduada em Culturas e Discursos Emergentes: da Crítica às Expressões Artísticas (FCSH/UNL). É fundadora da efabula. Cofundou Artéria — Humanizing Architecture (2011-19) onde coautorou vários projetos de reabilitação como o Edifício Manifesto e a Rua das Gaivotas 6. Foi cocuradora, entre outros, de CCA c/o Lisboa (Canadian Centre for Architecture, 2016-17) e Lisbon Skyline Operation (14ª Bienal de Arquitetura de Veneza, 2014). Integrou a equipa do Jornal Arquitetos (2016-18). A convite do MAAT, foi curadora do projeto Contra-Arquitetura (2020-22). Criou o podcast Territórios da Transgressão (2021-22). Desenvolve atualmente a tese de doutoramento A (in)certeza da norma. A invenção da Arquitetura pela lei.
Marta Rema é curadora e coordenadora editorial da revista Electra, criou e dirigiu os programas muitas vezes marquei encontro comigo próprio no ponto zero (Prémio Atelier-Museu Júlio Pomar, 2018), As coisas fundadas no silêncio (2020) e Atlas da Solidão (2023). Escreveu a peça Como um quarto sem telhado (Teatro Nacional D. Maria II) e criou as performances Jacarandá (com Jonas Lopes, 2013), Bardo (com Sofia Borges, 2012) e Arlequina (solo, 2013). Foi curadora, entre outras, de Três exposições, de João Machado, Margarida Garcia e Sara Lamúrias (Round the Corner); Como silenciar uma poeta, de Susana Mendes Silva (Museu Nacional de Arte Contemporânea); Quero um dia em que não se espere nada de mim (coletiva, Appleton) e Mirror Drumming, de João Biscainho (Appleton). Com formação em Filosofia e em Estudos Curatoriais, trabalha atualmente sobre sistemas de resistência.
Conceção, direção artística e cenografia: Lucinda Correia e Marta Rema Com: Andreas Philippopoulos-Mihalopoulos, Angelika Hinterbrandner, Gustavo Ciríaco e Sepideh Karami Produção: Ricardo Batista Assessoria de imprensa: Rita Bonifácio Design gráfico: João M. Machado Fotografia: Alípio Padilha Vídeo: Francisca Manuel Apoio à comunicação: Antena 2, Arte Capital, Coffeepaste, Gerador
Financiamento: Direção-Geral das Artes / República Portuguesa Organização: efabula