Matéria Incomum

Conferência-performance
Culturgest
28 de fevereiro, 2025
19H00
Com Andreas Philippopoulos-Mihalopoulos, Angelika Hinterbrandner, Lucinda Correia, Marta Rema, Sepideh Karami.
A partir de uma ideia de Lucinda Correia.
Curadoria de Marta Rema.
Os últimos anos mostraram-nos a que velocidade o mundo e a realidade podem mudar drasticamente. Mesmo que o meio ambiente tenha sido sempre dinâmico, que o início das alterações climáticas tenha tido origem antes da Revolução Industrial, que as doenças zoonóticas sempre tenham afetado a humanidade, ou que a pobreza urbana, os regimes totalitários e até a desinformação sejam repetições da história.
O que estamos a testemunhar neste momento é a intensificação destes processos, a ponto de se terem tornado emergências interconectadas e sem precedentes. A forma como os seres humanos se relacionam entre si e com os seres não-humanos está a ser severamente testada e o significado de conceitos como humanidade e democracia estão a ser postos à prova.
As estruturas materiais, mas, sobretudo, as imateriais, tais como a religião, a economia ou as grandes narrativas culturais, nas quais a coexistência humana tem vindo a ser moldada, e com base nas quais a humanidade tem vindo a formar a sua consciência, passaram a ser sistemas autónomos de manutenção do status quo e de controlo coletivo. Como espécie, somos caracterizados por essas estruturas, inclusive quando elas falham em definir-nos.

Estes conceitos e narrativas autonomizaram-se para além de nós e têm de ser revistos e reformulados, tendo, porém, em conta que a suposta excecionalidade de uma espécie, criou pontos cegos que levaram a um beco sem saída, onde a clássica perspetiva antrópica do Iluminismo, acabou por fomentar a submissão geral e estrutural ao interesse humano.
O projeto Matéria Incomum quer dar um passo atrás. Da cultura e da forma para a natureza e a matéria, para repensar as práticas extrativistas, as economias de mercado e as narrativas institucionalizadas de forma coletiva e transversal, de forma a poder engendrar estratégias de ação que questionem a atual cultura da construção e os seus modos de produção. Neste movimento da matéria, e uma vez que estamos a viver uma crise socioambiental e política, é necessário imaginar práticas responsáveis, com discursos ajustados para possibilitar a ocorrência de novos sentidos da coexistência, coabitação e convivência.

©Oliver Magda
Angelika Hinterbrandner trabalha com uma variedade de formatos e de colaborações dentro e fora do campo da arquitetura. A sua investigação centra-se no quadro político e legislativo da financeirização da habitação e nas implicações da crise climática no ambiente construído. Faz parte da Kontextur e é investigadora e professora na ETH Zurich, no Laboratório de Património Arquitetónico e Sustentabilidade. Em 2022, com outros cinco agentes das áreas da arquitetura, urbanismo, investigação e comunicação, iniciou o spaceforfuture.org.

©Tim Marsden
Andreas Philippopoulos-Mihalopoulos é investigador, artista e escritor. Participou na 58ª Bienal de Arte de Veneza (2019), na 16ª Bienal de Arquitetura de Veneza (2016) e em intervenções na Tate Modern, no Inhotim – Instituto de Arte Contemporânea, Brasil, na Danish The Royal Cast Collection, Dinamarca, na Royal Music Academy, Suécia, bem como noutras instituições. Expôs no College of Communication, Londres, na The Arebyte Gallery, no Palais de Tokyo, entre outros. É professor de Direito e Teoria na Universidade de Westminster e fundador e diretor do The Westminster Law & Theory Lab. The Book of Water, é o seu primeiro livro de ficção.

©Ariana Jordão
Gustavo Ciríaco é coreógrafo e artista conceptual com um trabalho entre as artes performativas e as artes visuais, a performance, a arquitetura, a antropologia e o paisagismo. Inicia a sua carreira em Ciências Políticas (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais-UFRJ) e deriva para a dança e para os projetos contextuais. Tem atuado no Brasil, na América Latina, na Europa e, mais recentemente, na Ásia e no Oriente Médio. O seu trabalho tem sido acolhido em festivais, eventos, galerias, museus e instituições de arte e educação, e tem participado também em projetos de exposição. Desde 2021, é mentor no programa THIRD (DAS-Research, Amsterdam University of the Arts).

Sepideh Karami é arquiteta, escritora e investigadora com doutoramento em Arquitetura e Estudos Críticos (KTH, Suécia). É professora de Arquitetura na Universidade de Edimburgo, Escola de Arquitetura e Arquitetura Paisagista (ESALA). Tem formação em arquitetura pela Universidade de Ciência e Tecnologia, Irão (MA, 2002) e pela Universidade de Chalmers, Suécia. Através da investigação artística, trabalha métodos experimentais e abordagens interdisciplinares na intersecção da arquitetura, artes performativas, literatura e geologia, com o ethos da descolonização, política menor e criticidade a partir do interior. Tem apresentado e exposto o seu trabalho em conferências e plataformas internacionais, e é publicada em revistas especializadas com revisão por pares.

©Rui Aguiar
Lucinda Correia é arquiteta (FA-UTL), investigadora e pós-graduada em Culturas e Discursos Emergentes: da Crítica às Expressões Artísticas (FCSH/UNL). É fundadora da efabula. Cofundou Artéria — Humanizing Architecture (2011-19) onde coautorou vários projetos de reabilitação como o Edifício Manifesto e a Rua das Gaivotas 6. Foi cocuradora, entre outros, de CCA c/o Lisboa (Canadian Centre for Architecture, 2016-17) e Lisbon Skyline Operation (14ª Bienal de Arquitetura de Veneza, 2014). Integrou a equipa do Jornal Arquitetos (2016-18). A convite do MAAT, foi curadora do projeto Contra-Arquitetura (2020-22). Criou o podcast Territórios da Transgressão (2021-22). Desenvolve atualmente a tese de doutoramento A (in)certeza da norma. A invenção da Arquitetura pela lei.

©Alípio Padilha, 2024
Marta Rema escreve, é curadora, programadora e coordenadora editorial (atualmente revista Electra). Criou e dirigiu os programas muitas vezes marquei encontro comigo próprio no ponto zero (Prémio Atelier-Museu Júlio Pomar, 2018), As coisas fundadas no silêncio (2020) e Atlas da Solidão (2023). Criou as performances Bardo (com Sofia Borges, 2012), Jacarandá (com Jonas Lopes, 2013), Arlequina (solo, 2013) e escreveu a peça Como um quarto sem telhado (2015). Foi curadora, entre outras, de Três exposições, de João Machado, Margarida Garcia e Sara Lamúrias (Round the Corner); Como silenciar uma poeta, de Susana Mendes Silva (Museu Nacional de Arte Contemporânea); Quero um dia em que não se espere nada de mim (coletiva, Appleton) e Mirror Drumming, de João Biscainho (Appleton). Com formação em Filosofia e em Estudos Curatoriais, trabalha sobre sistemas de resistência e sobre como o silêncio, a solidão e a linguagem se encontram no núcleo desses dispositivos.
Direção artística: Marta Rema
A partir de um conceito de: Lucinda Correia
Com: Andreas Philippopoulos-Mihalopoulos, Angelika Hinterbrandner, Lucinda Correia, Marta Rema e Sepideh Karami
Direção de movimento: Gustavo Ciríaco
Produção: Ricardo Batista
Assessoria de imprensa: Rita Bonifácio/Paris Texas
Comunicação: Rita Bonifácio/Paris Texas, Marta Rema
Design gráfico: João M. Machado
Cenografia: Lucinda Correia e Marta Rema
Figurinos: Sara Lamúrias e Marta Rema
Intervenção artística sobre figurinos: Martinha Maia
Desenho de luz: Tomás Ribas
Fotografia: Alípio Padilha
Vídeo e áudio: Francisca Manuel
Apoio à comunicação: Antena 2, Artecapital, Coffeepaste, Gerador, RTP2
Apoio: Amorim Cork, Câmara Municipal de Lisboa / Pólo Cultural Gaivotas | Boavista
Financiamento: República Portuguesa — Cultura / Direção-Geral das Artes
Parceria: Culturgest
Organização: efabula
Agradecimentos: Mag Rodrigues, Ricardo Batista
O projeto Matéria Incomum conta com o apoio de
