efabula

As coisas fundadas no silêncio

Conferências, exposição, performances, workshop, filosofia com crianças, concerto e cinema.
 
Com Alexandre Pieroni Calado, Ana Bigotte Vieira, Carlos Alberto Augusto, Domenico Lancellotti, Gonçalo Alegria, Emília Tavares, Gustavo Ciríaco, Inês Gil, Isabél Zuaa, Joana Gama, Joana Saraiva, Lucinda Correia, Luís Cláudio Ribeiro, Maria João Guardão, Maria LaLande, Marta Lança, Paulo Borges, Raquel Castro, Ruben Gonçalves, Susana Mendes Silva, Tiago Sousa e Vânia Rovisco.
 
Direção artística de Marta Rema.
 
De março a novembro de 2020.

Sophia de Mello Breyner

Em 1946, Aldous Huxley declarava que o século XX era “a Era do Ruído. Ruído físico, ruído mental e ruído do desejo — de todos eles registamos o record.” Num relatório de 2011, a Organização Mundial de Saúde chamou à poluição sonora uma “praga moderna”, concluindo que “há evidências contundentes de que a exposição ao ruído ambiental tem efeitos adversos sobre a saúde da população”. Mas o silêncio tem estado no centro da vida espiritual das religiões desde há séculos. O silêncio e o vazio levam ao sagrado, ao divino ou simplesmente ao conceito de uma essência superior que ultrapassa as fronteiras do físico, do percetível e do banal.

Pois o que é o silêncio? Quantas facetas conhecemos do silêncio? O silêncio alimenta ou sufoca a expressão criativa e a produção? Quando é que o silêncio é perigoso? Criatividade, concentração, contemplação, tudo exige silêncio: um mundo sem silêncio é um mundo inóspito ao florescimento humano. O silêncio não é um luxo, antes, é crucial para nossa saúde física e mental. É claro que não existe silêncio absoluto. Por outro lado, não se pode celebrar o silêncio acriticamente. Ser silenciado é o que acontece com aqueles que são vítimas de abuso. Além disso, o que é considerado ruído mau é muitas vezes controverso. Até o silêncio tem a sua política.

Marta Rema

 
 
Conferências

Culturgest
3 e 4 de março, 2020

©as coisas fundadas no silêncio, 2020

©As coisas fundadas no silêncio, 2020

©as coisas fundadas no silêncio, 2020

©As coisas fundadas no silêncio, 2020

©as coisas fundadas no silêncio, 2020

©As coisas fundadas no silêncio, 2020

©as coisas fundadas no silêncio, 2020

©As coisas fundadas no silêncio, 2020

©as coisas fundadas no silêncio, 2020

©As coisas fundadas no silêncio, 2020

©as coisas fundadas no silêncio, 2020

©As coisas fundadas no silêncio, 2020

©as coisas fundadas no silêncio, 2020

©As coisas fundadas no silêncio, 2020

©as coisas fundadas no silêncio, 2020

©As coisas fundadas no silêncio, 2020

O pianista Tadahico Imada afirma que, no início do período Showa (1925–1989), existiu um interesse generalizado em ouvir o desabrochar das flores de lótus, no começo do verão. Dado que este acontecimento ocorre a uma frequência sonora inacessível às capacidades auditivas humanas, o que interessava realmente a essas pessoas era ouvir aquele som fantasma, partilhando uma experiência próxima da alucinação coletiva auditiva. Uma das primeiras ideias que ocorrem a alguém que pensa sobre o conceito de silêncio consiste precisamente em demonstrar que o silêncio, ao contrário daquilo que se possa pensar, fala. Qualquer silêncio está cheio de informação. Contudo, sendo inaudível, essa informação é facilmente ignorada. Usualmente atribuímos causas negativas ao silêncio: surge de impedimentos em falar, que podem ter origens diversas (como o medo e a censura) ou em ouvir (como a surdez ou o ruído mental).

Mas existem certos contextos em que o silêncio tem uma natureza positiva: é, por um lado, o alicerce da contemplação e, por outro, pode descrever o que a linguagem não consegue. O silêncio indica que todas as hipóteses estão em aberto. Dado que a nossa perceção não tem acesso a contínuos, é na descontinuidade que nos damos conta do que se apresenta, ou seja, só por contraste podemos aperceber-nos de que há som ou há silêncio.
Pensar o silêncio implica, pois, convocar as noções de som e ouvido. 4’33’’, por exemplo, é uma expressão da relação entre música e silêncio, mas, mais do que isso, na medida em que cria uma intimidade com o momento presente, é uma reflexão sobre o que é ouvir. As coreografias de Merce Cunningham recusaram a narratividade. Já no cinema, o silêncio é um grande recurso por haver nele uma substancial riqueza semântica. Num belíssimo elogio à escrita, Marguerite Duras dirá: “Escrever é também não falar. É calar-se. É uivar sem ruído.”

Se é verdade, noutro contexto, que em psicanálise a questão do silêncio está inexoravelmente ligada à do recalcamento, isso não significa que o silenciamento discursivo não venha a tomar variadas formas. Uma dessas formas é a do esquecimento. O esquecimento é também uma forma de silenciamento. Um nome esquecido, por exemplo, é um nome que se tornou impronunciável. Mas, e se tudo procedesse do silêncio? No livro The Tuning of the World, R. Murray Schafer sugere que o início do universo talvez não tenha produzido qualquer som. A explosão do big-bang teria ocorrido em modo silencioso, gradualmente corrompido pela vida.

Procurando estabelecer uma proximidade e diálogo entre público e oradores, doze convidados de referência, de áreas tão distintas como a dança, a literatura, a astrofísica, a arquitetura, o cinema ou a religião e a filosofia, apresentaram durante dois dias na Culturgest as suas perspetivas sobre este campo de reflexão e debateram com o público as suas diversas abordagens.

3 de março

16:00
EMÍLIA TAVARES (Curadoria)
Curadora de fotografia e novos media, investigadora e professora.
 
INÊS GIL (Cinema)
Professora e realizadora.
 
RAQUEL CASTRO (Realização, Programação Cultural)
Investigadora, realizadora e programadora cultural.
 
JOANA BRAGA (moderação)
Arquiteta, investigadora e artista intermedial.

Emília Tavares interpreta imagens fotográficas do século XIX, analisando a sua capacidade paradoxal de figuração da presença e da ausência, de discurso e de silêncio. Inês Gil explora a “fotogenia do silêncio” nas obras contemporâneas e no período do cinema mudo. Raquel Castro fala do silêncio como um convite à escuta, um princípio da comunicação: não a ausência, mas o princípio de tudo.

4 de março

16:00
ALEXANDRE PIERONI CALADO (Teatro)
Ator e investigador em Teatro. Sócio-fundador da Arte e Engenhos.
 
LUCINDA CORREIA (Arquitetura)
Arquiteta, curadora e investigadora. Fundou efabula — towards a habitat culture (2019) e cofundou artéria — humanizing architecture (2011).
 
VÂNIA ROVISCO (Dança)
Bailarina, coreógrafa e investigadora. É fundadora da plataforma artística Aktuelle
Architektur der Kultur – AADK (2008).
 
ANA BIGOTTE VIEIRA (moderação)
Historiadora, dramaturgista, tradutora. Faz parte da equipa de programação do Teatro do Bairro Alto, como programadora da área de discurso.

Alexandre Pieroni Calado explica como numa peça tão ruidosa como A Tragédia de Coriolano, de William Shakespeare, o silêncio joga um papel crucial. Lucinda Correia apresenta de que forma a mundanidade se serve do caráter silencioso da arquitetura para qualificar o espaço humano. Vânia Rovisco reflete sobre o papel do momento de silêncio enquanto acontecimento e, assim, enquanto uma ferramenta na performance e no corpo em prática.

18:30
CARLOS ALBERTO AUGUSTO (Design Sonoro)
Compositor, designer sonoro, especialista em comunicação acústica, professor, conferencista e escritor.
 
RUBEN GONÇALVES (Astrofísica)
 
MARTA LANÇA (moderação)
Trabalhadora independente em várias linguagens da área da cultura, como programação, tradução, jornalismo, investigação, cinema. Desde 2010, edita o portal BUALA.

Carlos Alberto Augusto defende que som e silêncio são elementos de uma mesma cadeia de comunicação, e não opostos. Ruben Gonçalves explica como o Universo é dominado pela ausência de matéria e pelo silêncio.

18:30
JOANA GAMA (Música)
Pianista e investigadora.
 
LUÍS CLÁUDIO RIBEIRO (Epistemologia do Som)
Professor e diretor do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade
Lusófona, em Lisboa.
 
PAULO BORGES (Filosofia da Religião)
Professor de Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e investigador do Centro de Filosofia. É professor de meditação e presidente do Círculo do Entre-Ser.
 
MARIA JOÃO GUARDÃO (moderação)
Realizadora e jornalista. Realizou vários filmes de natureza documental. Assinou trabalhos em jornais, revistas, televisão, projetos online e editoriais, e, recentemente, no Teatro Nacional D. Maria II.

Joana Gama demonstra como, por mais que à partida possa parecer um paradoxo, a ideia de silêncio está presente na obra de vários compositores. Luís Cláudio Ribeiro fala do silêncio como uma tensão individual do interior para o exterior ou uma tensão do exterior para o interior. Paulo Borges convida-nos a experimentar o silêncio.

Como silenciar uma poeta

Susana Mendes Silva
Museu Nacional de Arte Contemporânea
10 de junho a 30 de agosto, 2020

©Nuno Barroso, 2020

A história literária está manchada de silêncios, desde os que se escondem aos que deixam de publicar, passando pelos que nunca chegam a publicar. Por outras palavras, há dois tipos de silêncio: um para o que é dito e o que permanece por dizer, e outro para quem tem direito a falar e quem é forçado a ficar calado. O silêncio é o lugar da morte, do nada. Mas não há silêncio sem fala. Não há silêncio sem o ato de silenciar.

©Susana Mendes Silva, 2020

Integrada no projeto As coisas fundadas no silêncio, Como silenciar uma poeta, exposição inédita de Susana Mendes Silva, parte da apreensão do livro Decadência da poeta Judith Teixeira que foi queimado em 1923, no Convento de São Francisco, nas antigas instalações do Governo Civil de Lisboa com entrada pela Rua Capelo, hoje parte integrante do Museu Nacional de Arte Contemporânea. O livro tinha sido alvo de uma polémica sobre a (i)moralidade da arte, que envolveu também António Botto e Raul Leal. Ainda assim, Judith Teixeira foi diretora de uma revista, escreveu um manifesto artístico modernista e publicou mais dois livros de poesia.

Como refere Vítor Silva Tavares, após 1927 Judith desaparece temporariamente de Portugal e dá-se um “emudecimento definitivo de uma voz tão incisivamente lançada à agitação”. Mas a potência destrutiva que silencia as e os artistas é muitas vezes revertida pela prática de se manter como presença fantasmática ao longo das décadas. A tensão erótica e a insubmissão femininas inscritas na sua obra, denotam a dimensão da transgressão que protagonizou. Enterrada viva, foi imerecidamente eliminada da memória coletiva e da história literária até recentemente, sem dúvida muito devido ao conteúdo lésbico em vários dos seus poemas, o que faz também da poeta um expoente da literatura lésbica e queer portuguesa.

©nuno barroso, 2020

©Nuno Barroso, 2020

©nuno barroso, 2020

©Nuno Barroso, 2020

©nuno barroso, 2020

©Nuno Barroso, 2020

©nuno barroso, 2020

©Nuno Barroso, 2020

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©Nuno Barroso, 2020

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©Nuno Barroso, 2020

©nuno barroso, 2020

©Nuno Barroso, 2020

©nuno barroso, 2020

©Nuno Barroso, 2020

A artista plástica Susana Mendes Silva desenvolve um projeto expositivo que inclui duas performances — Tradução #1 e Tradução #2 — que se debruçam sobre a tradução do poema “Flores de Cactus” de Judith Teixeira para as outras duas línguas oficiais Portuguesas: a Língua Gestual Portuguesa e o Mirandês, e a leitura performativa do manifesto DE MIM: Conferência em que se explicam as minhas razões sobre a Vida, sobre a Estética, sobre a Moral, publicado em 1926.

De mim, com Marta Rema
3 de julho, 21:30
Duração: 50 minutos
Rua das Gaivotas 6
 
A leitura performativa De mim debruça-se sobre o único manifesto modernista escrito por uma artista portuguesa no qual a escritora se defende dos ataques e críticas a que vinha sendo sujeita desde 1923. Não se sabe se este discurso, no qual Judith defende “liberdade máxima” para os artistas, terá sido alguma vez lido em público e por isso convocámos a presença fantasmática da poeta. A curadora Marta Rema, leu a conferência e a Susana fez de Valentine Saint Point e leu os poemas “Flores de Cactus” e “Ilusão”.

@alípio padilha, 2020

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Tradução #1, com Patrícia Carmo
3 de julho, 17:30
Duração: 2h
Estúdios Victor Córdon
 
Com a participação de Patrícia Carmo — professora surda de LGP e investigadora — o poema foi previamente traduzido e trabalhado numa residência de três dias com a artista, nos Estúdios Victor Córdon. Na performance, “Flores de Cactus” foi aprendido enquanto língua coreografada por todos os participantes que trabalharam em pares e em grupo.

@alípio padilha, 2020

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Tradução #2, com Alda Calvo
4 de julho, 16:00
Duração: 2h
Rua das Gaivotas 6
 
Em Tradução #2 — com a participação de Alda Calvo, falante de Mirandês e jurista — o poema foi previamente traduzido e, durante a sessão, foi discutido e aprendido enquanto sonoridade por todos os participantes.

@alípio padilha, 2020

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As Traduções foram, assim, uma voz coletiva para duas línguas, hoje oficiais, mas ambas perseguidas durante o Estado Novo.

 
 
 
 
 
SUSANA MENDES SILVA (Lisboa, 1972) é artista plástica e performer. O seu trabalho integra uma componente de investigação e de prática arquivística, que se traduz em obras cujas referências históricas e políticas se materializam em exposições, ações e performances através dos mais diversos meios de produção. O seu universo contempla e reconfigura contextos sociais diversos sem perder de vista a singularidade do indivíduo. A sua intimidade psicológica ou a sua voz são inúmeras vezes veículos de difusão e receção de mensagens poéticas e políticas que convocam e reativam a memória dos participantes e espetadores.

 
 
 
 
 
Susana estudou Escultura na FBAUL e frequentou o programa de doutoramento em Artes Visuais (Studio Based Research) no Goldsmiths College, Londres, tendo sido bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian. É doutorada em Arte Contemporânea, pelo Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, com a tese baseada na sua prática performativa – A performance enquanto encontro íntimo. É professora auxiliar na Universidade de Évora no curso de Arquitetura Paisagista.

Instalação; sala obscurecida, projeção vídeo, projeções de slides, áudio, poster, objeto escultórico e iluminação de recorte. Sala Polivalente do Museu de Arte Contemporânea.
 
Apoio à criação: OPART – Estúdios Victor Córdon; Rua das Gaivotas 6.
 
Fotografias da exposição de ©Nuno Barroso, 2020.

Por Isabel Nogueira, Revista Contemporânea.
 
Por Joana Duarte, Umbigo.
 
Nada Será Como Dante, RTP.
(minuto 10:37)

©Alípio Padilha, 2020

Uma voz

De Gustavo Ciríaco
Com Isabél Zuaa e Domenico Lancellotti
Brotéria
30 de setembro, 2020, 21:30

©Alípio Padilha, 2020

Não se pode celebrar o silêncio acriticamente. O silêncio tanto pode albergar um mundo de plenitude como um mundo de desalento. Ser silenciado é o que acontece com aqueles que são vítimas de abuso, de opressão. Há sempre algo não dito e ainda a ser dito, sempre alguém que luta para encontrar as palavras e a vontade de contar a sua história e, ensina-nos a História, a sua defesa nunca poderá ser desprezada.

@alípio padilha, 2020

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Uma voz é uma criação do coreógrafo Gustavo Ciríaco que toma o edifício da Brotéria como um imenso instrumento a ser tocado pela voz de uma mulher. Com a acústica como base de exploração sonora e música de Domenico Lancellotti, Isabél Zuaa interpreta temas originais e adaptados, que falam de pessoas silenciadas devido à cor da sua pele, ao seu género, à sua identidade sexual, condição social ou posicionamento político.

Ouvem-se canções sobre vozes que se perderam. Ao público é designado um caminho a seguir em diálogo com essa voz que ora revela, ora esconde o espaço na sua articulação com a arquitetura. Através destas histórias, percebemos como o silêncio pode ser um lugar de controlo, de opressão, de onde apenas se deseja escapar e contá-las é o início da liberdade para estas vozes.

©Alípio Padilha, 2020

GUSTAVO CIRÍACO (Rio de Janeiro) é um coreógrafo e artista contextual que vive entre Lisboa e o Rio de Janeiro. Com formação em Ciências Políticas, Ciríaco tem desenvolvido um conjunto multiforme de obras que põe o coreográfico a dialogar com os circuitos da experiência urbana, as condições de visibilidade dos museus e a ficção da experiência. Nas suas obras, a dança, o storytelling, a palavra cantada, o teatro e as artes visuais, convivem em projetos expositivos e site-specific onde arquitetura, paisagem e ficção se encontram em performances marcadas pela partilha da experiência sensível. As suas obras foram apresentadas em importantes festivais, galerias e instituições nacionais e internacionais entre os quais destacamos Crossing the Line/Nova Iorque; Casa Escendida/Madrid; Museu de Serralves/Porto; Mercat de Flors/Barcelona; Alkantara, Culturgest, Teatro Nacional Dona Maria II, ZDB, Museu Berardo/Lisboa; Ferme de Buisson, Paris Quartier d’Été/Paris; Tanz im August/Berlim; Al-Mammal Foundation/Jerusalém; Prague Theatre Festival/Praga; Vooruit/Ghent; Tokyo Wonder Site/Tóquio; Digital Art Center/Taipei; CENEART/Cidade do México; Panorama, Tempo Festival, CCBB/Rio de Janeiro; Arqueologías del Futuro/Buenos Aires; Bienal SESC de Dança, Itaú Cultural/São Paulo; London Festival, BAC, Laban Centre, Chelsea Theatre/Londres; Arnolfini /Bristol; Metropolis/Copenhague; FIDCU/Montevidéu; FADJR /Teerão; Danzalborde /Valparaíso; San Art Gallery/Ho Chi Min, Bellas Artes Projects/Manila, entre outros.

ISABÉL ZUAA é uma atriz e performer portuguesa, com origens na Guiné-Bissau e em Angola. Frequentou o Chapitô em interpretação teatral e tem o curso de Teatro da Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa e o curso de Artes cênicas da UniRio. Pesquisa dramaturgias onde o corpo negro é protagonista e anfitrião das suas próprias histórias, desmistificando estereótipos e pré-conceitos. Desde 2010 transita entre projetos de Dança, Cinema, Teatro – no Brasil e em Portugal. Em 2020, ganhou a Bolsa Amélia Rey Colaço para a criação do espetáculo “Aurora Negra”, em colaboração com as atrizes Cleo Tavares e Nádia Yracema. Em 2020 ganhou os prémios de Melhor Atriz pela sua prestação no filme Um Animal Amarelo, de Felipe Bragança, bem como na categoria de curtas-metragens, pelo papel desempenhado em Deserto Estrangeiro, de Davi Pretto​.
 
DOMENICO LANCELLOTTI nasceu em Niterói. Músico, compositor, também já trabalhou como cenógrafo, artista plástico, design, produtor musical e cozinheiro. Com Moreno e Kassin, formou o projeto “+2”. Cofundou a Orquestra Imperial. Tocou com Adriana Calcanhotto, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chrissie Hynd, Marisa Monte, Gal Costa, Jorge Mautner, Arto Lindsay, entre outros. Tem três discos a solo: Raio (2021), Cine Privê (2011) e Serra dos órgãos (2017).

O silêncio antes de encontrar

Rui Catalão
Oficina dias 4, 5, 11 e 12 de abril, 2020
Das 15:00 às 16:00 e das 17:00 às 18:00

O silêncio é um conceito abstrato que nos permite despertar para coisas concretas, que se manifestam à nossa volta. Que coisas são essas? O silêncio antes de encontrar é um conjunto de exercícios dedicados à observação, intercalados com a leitura de pequenos textos, cenas de filmes, reproduções de pinturas e temas musicais.

RUI CATALÃO é dramaturgo, encenador e performer. Autor e intérprete de uma série de oito solos autobiográficos (iniciada em 2010 com Dentro das Palavras; a última, O pavão canta, a pantera aproxima-se, é de 2017), tem vindo a introduzir o seu método de trabalho em contextos profissionais, pedagógicos e de inserção social. Entre as suas peças coletivas (Este grupo não poderia ter outro nome senão IVONE!, Judite, E agora nós, Assembleia, Jornalismo Amadorismo Hipnotismo) tem privilegiado a criação de narrativas em tempo real, a articulação da dramaturgia com linhas coreográficas, o diálogo com o público e a integração de não-profissionais nos elencos.

Participaram António Figueiredo Marques, Augusto Amado, Carla Costa, César Pedro, Chiara Picotto, David Gorjão, Francisca Rodrigues, Helena Martos, Mafalda Duarte, Mafalda Pinto, Margarida Coelho, Natividade Lemos, Paula Arinto, Rosa Batista, Rui de Almeida Paiva, Rui Gonçalves, Susana de Medeiros, Susana Mendes Silva, Susana Paiva e Xana Sousa.

O que pode nascer do silêncio?

Joana Saraiva
Oficina de filosofia com crianças
18 e 19 de abril, 2020
18 de abril, 10:00-11:00 – Dos 4 aos 7 anos
18 de abril, 16:00-17:00 – Dos 8 aos 11 anos
19 de abril, 16:00-17:00 – Dos 12 aos 14 anos

A partir da pergunta O que pode nascer do silêncio?, esta oficina vai lança-nos na aventura do pensamento.
 
Com a ajuda de textos, imagens ou filmes, pensamos juntos sobre as perguntas que podem nascer destas: é possível ouvir o silêncio? O que é que associamos ao silêncio? O que pode nascer no silêncio que não pode nascer noutras condições? O silêncio é o que torna possível ouvir outras coisas? Estar em silêncio é só não falar? É só não haver ruído? Já estivemos em silêncio? Há lugares de silêncio?
 
As perguntas podem ser estas e podem ser outras. São as que forem sugeridas pela nossa curiosidade. E porque se trata de pensar, vamos perguntar mais do que responder. Vamos ensaiar respostas, experimentar respostas, rir das respostas e discutir as respostas. Vamos aprender a argumentar. Vamos concordar e discordar. Mas vamos evitar as conclusões. Porque esta aventura não acaba e nunca nenhuma resposta é definitiva.
 
E vamos também experimentar sentir o silêncio no nosso corpo – será isto possível?

Desenho de José Maria Noronha-Feio

JOANA SARAIVA orienta regularmente oficinas de Filosofia com Crianças, oficinas de Teatro e oficinas que combinam estas duas áreas. É licenciada em Filosofia, pós-graduada em Filosofia com Crianças com uma tese de mestrado em Teatro-Comunidade na Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC). Tem o curso de atores do Instituto de Formação, Investigação e Criação Teatral (IFICT), o curso de atores da Comuna e uma especialização em técnica Meisner. Fez o curso de formação em audiodescrição, promovido pela Acesso Cultura.

Como colaboradora regular da Acesso Cultura e da AR Produções, trabalha como audiodescritora e tem como clientes habituais o Teatro São Luiz, o TNDMII, o TNSJ, o Teatro LU.CA, a RTP e a Fundação Calouste Gulbenkian, entre outros. Como atriz trabalhou, entre outros, com Monica Calle, Tiago Vieira, Gerado Naumann, João Mota e John Frey. É professora de Teatro e Expressão Dramática na EB Paula Vicente e dinamizadora de projetos de Teatro Comunitário em diferentes contextos.

Concerto Tiago Sousa

©Vera Marmelo

Com a violoncelista Bruna Maia Moura
Museu Nacional da Música
24 de julho, 2020

Dizer que a música nasce do silêncio é uma afirmação banal. A música estabelece-se nesta relação com o silêncio, sem dúvida, da mesma forma como a cor se estabelece na sua relação com a sombra ou o habitar se estabelece com o espaço. Estaremos talvez mais perto de uma afirmação relevante se dissermos que todo o ato musical parte do tédio e da contemplação, de um demorar-se, da experiência temporal que o silêncio provoca como o vazio total de significação, o Nada. O silêncio, como a contemplação, têm a relevância de chamar a atenção para a experiência do Tempo, que pode ser hipnótica e plástica. Deste modo, releva-se a serenidade e o recato em contraponto à ênfase insistente no agir. Talvez assim possamos evidenciar como entre a música e o silêncio se estabelece, sobretudo, um diálogo.

©Alípio Padilha

©Vera Marmelo

Numa sociedade em que a necessidade, a produtividade e o trabalho ocupam um lugar central, a experiência do silêncio, assim como a experiência musical, são manifestações desvinculadas de qualquer preocupação ou necessidade, que nos remetem para um estado de liberdade das necessidades e limitações da vida. Para Tiago Sousa, compositor e pianista que ao cabo dos últimos dez anos tem desenvolvido uma linguagem muito pessoal, longe dos cânones e academismos, a música é precisamente este espaço de comunicação do indizível, de relação com o instante e com a repetição e a intimidade. A partir de composições suas, e composições de algumas das suas referências, caso dos compositores Federico Mompou, John Cage e Arvo Pärt, aborda neste concerto o tema proposto por este programa apresentado no Museu da Música.

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

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@Alípio Padilha, 2020

Repertório:
 
Composições de John Cage
4’33’’
Dream
 
Composições de Federico Mompou
La Barca
Pajaro Triste
Secreto
Música Callada (excerto)
 
Composições de Arvo Pärt
Spiegel Im Spiegel
Fur Alina
 
Composições de Tiago Sousa
Elogio da Sombra
Quietude
Angst
3 AM

Tiago Sousa apresenta-se como um caso raro na abordagem ao piano. Diversificado demais para os cânones da escola clássica, nele ouvimos elementos jazzisticos difusos, referências reunidas na antiga filosofia oriental e uma infinidade de mundos entrelaçados. Embora íntima, a subtileza e a magnitude da implosão emocional das suas peças não têm outro habitat para além da universalidade. O seu género musical é genuinamente livre e libertador na sua dimensão mais ampla, revelando um véu onírico que elogia o palco telúrico com orgulho. É um pianista virtuoso na capacidade de enumerar os silêncios e as suas vantagens enquanto partitura na composição e que podemos escutar em discos como Insónia (2009), Walden Pond’s Monk (2011), Samsara (2013) ou o mais recente Piano nas Barricadas (2016).

Ciclo de cinema

29 de maio – TERRA, Hiroatsu Suzuki e Rossana Torres
 
30 de maio – LAND OF SILENCE AND DARKNESS, Werner Herzog
 
31 de maio – BERLIN 10/90, Robert Kramer + TWO CABINS, James Benning (sessão dupla)

O ciclo de cinema As coisas fundadas no silêncio reuniu ao longo de três dias quatro filmes que evocam perspetivas diversas sobre o silêncio: reflexões políticas, poéticas, experimentais ou documentais.
 
Os filmes foram apresentados na sala do efabula, sempre das 16:00 às 23:30.

©Hiroatsu Suzuki e Rossana Torres, TERRA

TERRA, de Hiroatsu Suzuki e Rossana Torres (2018).
 
Filmado no Alentejo, TERRA tem como protagonista Nuno Alves, um homem que faz carvão em dois grandes fornos cobertos de terra, e é uma pesquisa cinematográfica da imagem, do som e da maneira de transmitir uma emoção ou de sentir, sentir os elementos naturais.

©Werner Herzog Film

LAND OF SILENCE AND DARKNESS, de Werner Herzog (1971).
 
Documentário sobre a vida de pessoas surdas-mudas que acompanha Fini Straubinger, surda-cega desde os 15 anos que, depois de passar 30 anos solitários imobilizada numa cama, aprende a comunicar usando o alfabeto das mãos. No filme, Fini ajuda outras pessoas surdas-cegas, faz uma visita ao Jardim Zoológico, viaja de avião pela primeira vez e fala sobre a sua condição e do silêncio, que diz ser um «barulho constante».

©Robert Kramer

BERLIN 10/90, filme de Robert Kramer (1990).
 
Vemo-lo frente ao espelho do seu wc em Berlim, refletindo sobre a recente queda do Muro, apelando a uma perceção intuitiva da realidade, de estar aí, agora, na fruição do tempo. É um longo take sobre a vida, a morte, a história, a ideologia, filmado das 3:15 às 4:15 da tarde, do dia 25 de outubro de 1990. Ao visitar Berlim logo após a unificação da Alemanha, Kramer vê-se confrontado com várias coisas: o passado, pois o seu pai esteve lá em 1933, a história, o genocídio nazi, o colapso, um país perdido chamado Alemanha Oriental. Dirá mais tarde que o filme é “um diálogo entre mim e a reverberação que a Alemanha passou a ter nas nossas histórias.”

©James Benning

TWO CABINS, de James Benning (2011).
 
Para filmar TWO CABINS, o cineasta independente James Benning construiu réplicas das cabanas de Thoreau e Kaczynski (o Unabomber). Thoreau escreve Walden em 1854, um manifesto poético contra a civilização industrial, que então ganhava força nos Estados Unidos. Em 1971, Kaczynski muda-se para uma cabana remota sem eletricidade nem água, perto de Lincoln, Montana, onde se isolou numa tentativa de se tornar auto-suficiente e proclamando a destruição da sociedade tecnológica antes que ela nos destrua. Através da relação com a natureza, o filme evoca questões de liberdade individual, desobediência civil, democracia e solidão.

Jogo da bomba

©Alípio Padilha

Criação e construção: Gonçalo Alegria
Players: Gonçalo Alegria e Maria LaLande
Galeria Monumental
20 de novembro de 2020, 16:00 às 18:00

O que está contido: duas pessoas que atravessam uma sala repetidas vezes com a premissa de serem incomodadas. Seguem uma partitura de regras que os obriga a confrontos inevitáveis. Nos seus trânsitos, capturam e transportam consigo bric-à-brac de coisas descobertas, geram fragmentos que se vão acumulando até à saturação. As relações de proximidade e afastamento entre os dois e o público vão revelando sons e silêncios, consoante a sua posição no espaço e no tempo.

O processo de composição trabalha os desenhos efetuados no espaço pelos trajetos e pelos objetos, bem como cria relações entre caos e o processo de decisões de ambos mediante um conjunto de regras dentro de um intervalo de tempo.
 
Jogo da Bomba reflete sobre posições, perceção e estados no espaço e foi o espetáculo de encerramento do programa As coisas fundadas no silêncio.

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

@alípio padilha, 2020

@Alípio Padilha, 2020

GONÇALO ALEGRIA estudou música com Walter Lopes, José Eduardo, Mário Delgado. Foi professor de Som e de Luz na Escola Profissional de Artes e Ofícios do Espetáculo. Frequentou o Curso de Artes da Performance Interdisciplinares e Tecnológicas, Programa Gulbenkian Criatividade em 2008. É membro do coletivo Silvestre Alegria. Desenvolve uma pesquisa artística interdisciplinar onde usa, entre outras matérias, o som, rádio, performance, a construção de objetos e a escrita. Trabalha em teatro desde 1999. Colaborou, entre outros, com Ainhoa Vidal, Marina Nabais, Companhia Caótica, João Ferro Martins, Daniela Silvestre, Máquina Agradável, Sílvia Pinto Coelho, João Pedro Vaz, Teatro do Vestido, SubUrbe, Teatro Praga, Ninho de Víboras, Teatro Meridional. Frequenta o Mestrado em Artes Musicais na FCSH.

MARIA LALANDE começa o seu percurso no cinema e na televisão trabalhando como assistente de realização e editora, após concluir a licenciatura em Cinema e Vídeo e a pós-graduação em Cinema Documental. Em 2006, participa num curso na escola Guildhall School of Music & Drama (Londres). Fez o curso de teatro da The Neighborhood Playhouse (NY), fundada por Sanford Meisner. Regressa a Portugal e continua a formação com alguns workshops destacando o de João Brites, Patsy Rodenburg e Pepa-Diaz-Meco. Trabalha como atriz, performer e professora da técnica de Meisner e colaborou com vários criadores, entre eles, Gary Kingston, Harold Baldridge, Ron Stetson, Ron Shetler, Rui Melo, Ávila Costa, Tiago Vieira, Miguel Thiré, Ricardo Neves-Neves, Ana Borralho e João Galante.

Conceção, direção artística, curadoria, textos e comunicação: Marta Rema
Produção: Andreia Páscoa
Design gráfico: João M. Machado
Assessoria de imprensa: Rita Bonifácio, Paris/Texas
Fotografia: Alípio Padilha
Vídeo: Francisca Manuel
Assistência vídeo: Joana Fernandes
Parcerias: Culturgest – Fundação CGD; Appleton – Associação Cultural; Museu Nacional de Arte Contemporânea; Tigre de Papel; St. George’s Church, Lisbon; Brotéria; Instituto Superior Técnico; Museu Nacional da Música; Cinema São Jorge; Galeria Monumental; Rua das Gaivotas 6; Estúdios Victor Córdon; Buala; Antena 2; baldio – estudos de performance; UMBIGO
Apoio à criação: OPART – Estúdios Victor Córdon.
Apoio à comunicação: RTP, Antena 2, Carris, Umbigo, Coffeepaste, Buala, Baldio.
Projeto financiado por: República Portuguesa — Cultura / Direção-Geral das Artes.
Organização: efabula

Inicialmente previsto para os meses de março a abril de 2020, o programa As coisas fundadas no silêncio arrancou ao mesmo tempo que a pandemia associada ao vírus SARS-CoV-2, acabando por realizar-se entre março e novembro. Com apoio da Direção-Geral das Artes, contou com 16 parcerias que foram sendo permanentemente adaptadas e reformuladas para que tudo fosse — ainda — possível. Agradecemos a todos a disponibilidade, a simpatia e o empenho indispensáveis. Num período em que a exigência foi grande, foi um privilégio.