4 ações performativas 4 conferências
1 livro verde
Contra-arquitetura foi um projeto de pesquisa colaborativo que se desenvolveu entre junho e novembro de 2020 — quatro ações performativas, conferências e conversas de que resultaram um Livro Verde, no ano em que Lisboa é a Capital Verde Europeia, para se ponderar o futuro daquilo a que chamamos urbanidade.
A partir de quatro oposições de conceitos fundamentais — realidade/fantasia, controlo/transgressão, exibição/ocultação e lógica/absurdo — discutem-se metodologias de abordagem do impacto ambiental, no seu sentido mais amplo, e das práticas arquitetónicas e urbanísticas, visando gerar cruzamentos disciplinares produtivos e confrontar os diferentes métodos de argumentação. Os convidados são membros da administração pública, arquitetos, engenheiros, geógrafos, cientistas, sociólogos, juristas, promotores imobiliários, construtores e outros atores urbanos.
Embora ainda não tenha sido oficialmente considerada uma época geológica, não há dúvida de que o Antropoceno domina o discurso tanto da Academia como do público em geral, estejamos ou não de acordo: a aparente supremacia da Humanidade sobre a Natureza é resultado das ações científicas e tecnológicas do Homem. Em 2019, cientistas de todo o mundo declararam o estado de “emergência climática” devido ao impacto da atividade humana no ambiente, parte significativa do qual se deve, presumivelmente, à indústria da construção. E isso não é tudo: o nosso modo de vida é, definitivamente, insustentável. Os recursos do planeta que continuamos a consumir não poderão mais ser substituídos por meios naturais. Portanto, assistiremos certamente a uma mudança de paradigma.
Se a cultura está intimamente ligada às formas de habitar o território, a arquitetura como sistema desempenhará um papel cada vez mais decisivo no processo de transformação que se aproxima. É, pois, necessário promover uma ideia filosófica, científica e económica de contra-arquitetura que permita reconceptualizar a nossa relação com a Natureza. A maneira como repensaremos a construção e a urbanidade, por exemplo, vai certamente estabelecer novos desafios, além de, num sentido mais amplo, redefinir a responsabilidade da arquitetura no impacto da intervenção humana sobre o meio ambiente.
CONVERSA com Miguel Ferreira Mendes, Pedro Matos Soares, Susana Fonseca, Viriato Soromenho-Marques e Alexandra Paio (moderadora).
As instituições mantêm como narrativa uma espécie de ficção do mundo que lhes permite sobreviver numa realidade muito concreta que, paradoxalmente, não corresponde, em rigor, àquela ficção. Isto só é possível porque se gera uma tensão entre aquilo que deveria ser, enquanto projeto, e aquilo que é, enquanto realidade. Este «deveria ser» emerge como representação de um mundo institucional ordenado, dando sentido aos objetivos particulares de cada instituição. O «é» corresponde à realidade crua e nua que a ciência nos permite descrever, em cada momento. Percebe-se então que aquilo a que chamamos sentido é, muitas das vezes, uma construção do poder. O suporte cénico de tudo isto (como quadro, que se torna, alternadamente, estático ou dinâmico) é, sem dúvida, a arquitetura.
7K7A0044
7K7A0060
7K7A0077
7K7A9664
7K7A9792
7K7A9823
7K7A9872
7K7A9956
7K7A9986
RANIA GHOSN (Design Earth) Design Earth é uma prática de pesquisa arquitetónica desenvolvida por Rania Ghosn e El Hadi Jazairy que implementa a estética como uma forma de compromisso ambiental. Expõem em instituições internacionais de arte e cultura. Rania é professora associada de Arquitetura e Urbanismo na Escola de Arquitetura + Planeamento do Massachusetts Institute of Technology.
MIGUEL FERREIRA MENDES
Arquiteto independente que privilegia uma abordagem bioclimática e humanista da arquitetura, assente na valorização das Culturas Construtivas Locais, numa perspetiva de Desenvolvimento Sustentável. É projetista, formador, consultor e responsável pelo acompanhamento de obras em todo o mundo. Membro do CRAterre e membro fundador da Associação Centro da Terra.
PEDRO MATOS SOARES
Investigador principal no Instituto Dom Luiz e Professor Convidado no Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia (FCUL). Na última década concentrou o seu esforço de pesquisa em temáticas que incluem a modelação climática, as alterações climáticas, as energias renováveis e a sustentabilidade. Lidera o grupo de investigação Alterações climáticas, processos na atmosfera-terra-oceanos e extremos do IDL/FCUL.
SUSANA FONSECA
Doutorada em Sociologia pelo ISCTE – IUL, foi investigadora na área da Sociologia do Ambiente no ISCTE-IUL e no ICS-ULisboa. Fundadora e membro da direção da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável. Faz parte do grupo de fundadores da Copérnico, a primeira cooperativa de energias renováveis em Portugal, onde é membro do Conselho de Curadores.
ALEXANDRA PAIO (moderadora)
Arquiteta e Professora no ISCTE, Diretora do Doutoramento em Arquitetura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos e Diretora do Curso de Especialização em Territórios Colaborativos. Coordenadora Científica do Vitruvius Fablab-IUL.
#02
Controlo/Transgressão
25.09.2020
AÇÃO performativa com Cláudia Jardim/Teatro Praga.
CONFERÊNCIA com Neil Leach: The Politics of Space in the Age of Covid-19.
CONVERSA com Idalina Baptista, João Miranda, Lia Vasconcelos, Paulo Carapuça e José Bragança de Miranda (moderador).
A lei determina aquilo que tem de ser e o que podeser limitado através das normas que regem as atividades humanas. Há sempre, no entanto, uma margem para a transgressão estabelecida em todas as culturas pelo uso, que faz com que a «legitimidade», reconhecida pela maioria dos membros de uma sociedade, não coincida com a estrita «legalidade». Isso vai emprestar um carácter simbólico à lei no seu espírito ou na sua aplicação que o legislador/político gere à medida de interesses, na maioria das vezes, circunstanciais. Todavia, o gesto criativo, sobretudo na arquitetura e nas artes, move-se frequentemente nesse intervalo.
NEIL LEACH
Arquiteto e professor. Lecionou em muitas das principais escolas de arquitetura, incluindo Architectural Association School of Architecture, Harvard GSD, Columbia, Cornell, SCI-Arc e Tongji, e realizou pesquisas para a NASA. Publicou mais de quarenta livros sobre teoria da arquitetura e prática digital. Atualmente está a escrever sobre inteligência artificial.
IDALINA BAPTISTA
Professora Associada em Antropologia Urbana na Universidade de Oxford, onde leciona no mestrado e doutoramento em Desenvolvimento Urbano Sustentável. A sua investigação é sobre questões de governança urbana, políticas urbanas e práticas de urbanização, adotando abordagens teóricas e metodológicas de várias áreas disciplinares, incluindo Estudos Urbanos, Geografia, Antropologia e Estudos Sociais sobre ciência e tecnologia. Cofundou com a Prof. Lia Vasconcelos a WTeamUp.
JOÃO MIRANDA
Licenciado em Direito, mestre e doutor em Direito, pela Universidade de Lisboa. É professor auxiliar da Faculdade de Direito e Investigador Principal do Centro de Investigação de Direito Público da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Especialista em Direito do Urbanismo com diversos artigos e monografias publicadas, em especial A dinâmica jurídica do planeamento territorial. A alteração, a revisão e a suspensão dos planos (2002) e A função pública urbanística e o seu exercício por particulares (2012).
LIA VASCONCELOS
Doutorada pela FCT-UNL; Mestre em Planeamento, University of Rhode Island, USA; arquiteta pela ESBAL. Docente no Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente e investigadora integrada do MARE). Investiga sobre processos inovadores de decisão colaborativa, mobilizando multi-stakeholders. Recebeu vários prémios: Prize of Iconic Women Creating a Better World For ALL – Associations that Work 2019, Responsible Research Innovation 2015, Significant Participatory Practices, Prize of Collaborative Research 2013-2014 e Communication Award 2013.
PAULO CARAPUÇA
Administrador do Grupo Casais responsável pelas Áreas Comercial, Administrador do Grupo Casais responsável pelas Áreas Comercial, Concessões e Participações e área Internacional, nomeadamente nos mercados de Abu Dhabi, Dubai, Argélia, Marrocos, Moçambique, Brasil, Qatar e Cabo Verde. Foi Diretor Geral do Estado Português entre 1995 e 2004. Atualmente é também Membro da Comissão Executiva e Conselho Estratégico da Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção.
#03
Exibição/Ocultação
02.10.2020
AÇÃO performativa com Bernardo de Lacerda/Teatro Praga.
CONFERÊNCIA com Tatjana Schneider: Non-Hegemonic Forms of Spatial Practice.
CONVERSA com Diogo Teixeira, João Gomes da Silva, Ricardo Veludo, Rita Vieira Cruz e Patrícia Canelas (moderadora).
Vivemos, positivamente, num mundo de representações. A imprensa e os media, em geral, são o seu veículo privilegiado, ainda que, o que é tecnologicamente ou artisticamente produzido – dos bens de consumo à arquitetura –, também lhes sirva de veículo. Através dessas representações desenha-se plano de um mundo que permite ao habitante de um dado território reconhecer a sua identidade social. Todavia, o desenho obtido desta forma não é, exatamente, realista. Há um reverso da realidade cuja revelação, neste contexto, adquire um caráter perturbador. Esse tipo de informação, raramente desocultado pela comunicação social, alimenta o pensamento subversivo. Assim, naquela representação de si mesma fabricada quotidianamente pela sociedade, os critérios que se estabelecem para mostrar “isto” ou “aquilo”, vão depender, em grande medida, de uma lógica política que quer compatibilizar contradições, muitas vezes difíceis de resolver.
TATJANA SCHNEIDER
Professora de Teoria da Arquitetura na TU Braunschweig desde 2018. Dirige o Instituto de História e Teoria da Arquitetura e da Cidade (GTAS) e a Coleção de Arquitetura e Engenharia Civil (SAIB). Investiga, discute, escreve sobre e resiste às produções violentas — exploradoras, especulativas e segregadoras — da arquitetura, da cidade e do espaço.
DIOGO TEIXEIRA / ESSENTIA
Cofundou o IPAV e a Beta-i, uma das aceleradoras de startups mais ativas da Europa, e, mais recentemente, a Build the City, um think & do tank independente que trata problemas relacionados com o desenvolvimento e as culturas das cidades. Na ESSENTIA – Desenvolvimento e Gestão de Projectos, tem a seu cargo a Direção de Projetos Especiais.
FILIPA ROSETA
Professora Associada na FA-UL e Investigadora do Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design. Deputada na Assembleia da República integrando as Comissões parlamentares de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação; Ambiente, Energia e Ordenamento do Território; e Cultura e Comunicação. Foi Vereadora da Câmara Municipal de Cascais com os pelouros do Urbanismo.
JOÃO GOMES DA SILVA
É Professor Convidado do Departamento de Arquitetura da Universidade Autónoma de Lisboa e Professor na Accademia di Architettura di Mendrisio. Em 2015, foi convidado como Professor Visitante em Arquitetura Paisagista na Harvard Graduate School of Design, no Departamento de Arquitetura Paisagista. Foi galardoado com diversos prémios.
RITA VIEIRA CRUZ
Economista. Passou pela imprensa escrita, pelas áreas da inovação e contratação pública (COTEC-Portugal, IAPMEI) e pela investigação em temas do Trabalho (OIT-Organização Internacional do Trabalho, em Genebra). O seu projeto Movimento pelo Jardim do Caracol da Penha foi vencedor da edição 2016 do Orçamento Participativo da Câmara Municipal de Lisboa. Integra a Direção da Caracol POP – Associação, organização que se dedica à participação cidadã e à criação de movimentos sociais em Lisboa.
PATRÍCIA CANELAS (moderadora)
Patrícia Canelas é professora na Universidade de Oxford em desenvolvimento urbano sustentável. Arquiteta e urbanista com doutoramento em planeamento urbano da UC, a sua investigação centra-se nas lógicas e práticas presentes no processo de cocriação de políticas urbanas e mercados imobiliários, e os seus impactos no território e nos processos de criação do habitat.
CONFERÊNCIA com Lars Lerup: Toxic Ecologies: Urbanization in the Times of a Pandemic.
DEBATE com Ana Pinho, Eduardo Brito-Henriques, Lígia Nunes, Pedro Martins Barata e Sandra Marques Pereira (moderadora).
A organização de cada sociedade revela, no seu modo de perceção da realidade, a lógica daquilo que rejeita por considerar simplesmente impensável. Assim, ficam definidos os limites do que os seus membros podem ou não fazer nas diferentes esferas da vida social. O impensável e o inconcebível são espontaneamente rejeitados pela cultura dominante. Por aqui estabelece-se também a amplitude do que é entendido como diferente, a partir da generalização das categorias de lógico e de absurdo. O racional é, então, substituído pelo cultural. Nas sociedades ditas tolerantes, a diferença é considerada uma mera curiosidade. Nas intolerantes, a diferença transforma-se numa ameaça. A implicação da arquitetura neste processo revelar-se-á sempre óbvia e não é, pois, de estranhar que o seu sistema de valores se deixe condicionar por este fenómeno.
LARS LERUP
Professor emérito de arquitetura Harry K. e Albert K. Smith, reitor emérito da Rice School of Architecture, Houston Texas e professor emérito da University of California em Berkeley. Foi-lhe atribuído o Doutor Honoris Causa em tecnologia pela Lund University, Suécia, em 2001. Obteve o Harold W Brunner Rome Prize Fellow na American Academy de Roma 2009-2010. Lerup tem um cargo de professor e pesquisa no Centro Hermann von Helmholtz de Técnicas Culturais da Universidade Humboldt, em Berlim. Escreveu vários livros traduzidos em várias línguas como Building the Unfinished: Architecture and Human Action, Planned Assaults, After the City, One Million Acres e The Continuous City. Atualmente é professor visitante na Escola de Arquitetura da University of Miami.
EDUARDO BRITO-HENRIQUES
Doutor em Geografia Humana, Eduardo investiga e escreve sobre turismo, património e materialidade da memória, entrelaçamentos sociotécnico-naturais nas paisagens culturais e paisagens devastadas. É professor associado do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa e investigador integrado no Centro de Estudos Geográficos. Membro do Conselho Científico do IGOT e da comissão coordenadora do Mestrado em Turismo e Comunicação. No CEG, é cocoordenador do Grupo de Investigação de Turismo, Património e Território.
LÍGIA NUNES
Professora de Arquitetura nas áreas de Projecto, Teoria, História da Arquitetura e Cooperação para o Desenvolvimento em Arquitetura e professora auxiliar na Universidade Lusófona do Porto. Colabora com o ISCTE–IUL em cursos de pós-graduação no campo da cooperação. Membro do Centro de Estudos em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Fundou a Arquitetos Sem Fronteiras Portugal, é membro fundador da “Architecture Sans Frontières – International” e presidente da ASF – Internacional.
PEDRO MARTINS BARATA
Tem mais de 20 anos de experiência em política climática e mercados de carbono. Partner da Get2C, onde assume a coordenação de diferentes projetos, em particular na área de política climática. Foi membro da Delegações Portuguesa e Europeia para a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas. Foi Vice-Presidente do Comité Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo para o Protocolo de Quioto. Coordenou os trabalhos da equipa que elaborou o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050.
SANDRA MARQUES PEREIRA (moderadora)
Professora convidada do Mestrado Integrado de Arquitetura e Doutoramento Arquitetura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos. Cocoordenadora do WG Southern European Housing do European Network for Housing Research. Autora de várias comunicações e publicações nacionais e internacionais e vencedora de dois prémios para melhor tese de doutoramento (IHRU 2011 e André Jordan 2012).