Clip #1
Marta de Menezes conversa com Karolina Zyniewicz e Tuçe Erel durante a montagem da exposição Paired Immunity na Art Laboratory Berlin.
Karolina Zyniewicz, artista e investigadora. Doutoranda na Faculdade Artes Liberales da Universidade de Varsóvia, no Programa Transdisciplinar Nature-Culture. Situa os seus trabalhos no campo da ‘bioarte’. Entende a sua actividade liminal como produção de conhecimento situado; o foco do seu trabalho é a vida, entendida no sentido biológico e cultural. Os seus projectos têm um carácter conceptual e crítico. A questão principal da sua pesquisa de doutoramento são as relações multinível que emergem durante a realização de projectos liminais. Procura colocar as suas observações, enquanto artista/ investigadora, nos contextos dos Estudos de Ciência e Tecnologia (STS), da Teoria Actor-Rede de Bruno Latour e dos feminismos nas humanidades. Actualmente, faz assistência a novos projectos e exposições na Art Laboratory Berlin.
Tuçe Erel, curadora radicada em Berlim. Licenciatura em Sociologia na METU (2005, Ankara), MA, Anatolian University, 2009, MA em Arts Policy and Management (curadoria), Birkbeck College, 2015. Erel trabalhou em revistas de arte, como editora de conteúdo, arquivista e assistente de galeria; desde 2015 desenvolve projectos de curadoria internacionalmente. Co-curadora de Now You Are Here, com Seval Sener, na Arte Sanat em Ancara, curadora da Fabric / ate em Schneidertempel em Istambul (2017); curadora de Hactivate Yourself na 1a Space em Hong Kong, 2019 . Membro do Top Transdisciplinary Project Space desde janeiro de 2017. Na curadoria interessa-se por práticas de arquivo, pós-humanismo, antropoceno, ecocriticismo e teorias pós-digitais. Desde dezembro de 2019 é membro da equipa do Art Laboratory Berlin, colaborando em projectos e conceitos curatoriais.
É o sistema imunitário que identifica e regula a fronteira entre cada ser e o mundo que o envolve. Como afirma Marta de Menezes, ele «identifica quem somos e quem é o outro». A ideia de «imunidade emparceirada», Paired Immunity, é assim uma expressão que comporta uma tensão dialéctica, uma espécie de paradoxo. O conceito de imunidade aponta para uma barreira que separa o ser do mundo, que impede a sua contaminação pelo outro. A ideia do indivíduo autónomo, auto-suficiente, imune às condições e contingências que o rodeiam, imune aos outros com quem partilha o planeta é intrínseca à modernidade, assim como a ideia da separação entre áreas disciplinares.
O trabalho de Marta de Menezes joga com e desafia todas estas fronteiras. Ocupa um campo interdisciplinar no cruzamento das artes visuais, da investigação na biologia e das possibilidades da tecnologia e, em simultâneo, problematiza a tensão entre a individualidade humana e a forma como a relação com os outros e com o mundo, fulcral para a vida, contamina e transforma a identidade.
Nos seus projectos artísticos, Marta de Menezes explora a potencialidade expressiva e imagética dos materiais biológicos, da própria materialidade da vida. O seu trabalho representa uma abordagem singular ao corpo, tornando visíveis os processos moleculares que o compõem. Marta utiliza e incorpora a biologia enquanto forma de conhecimento para experimentar alterações desses processos e incorpora nas suas obras técnicas biológicas como meio de expressão artística e criação de imagens. Operando a uma micro-escala na matéria biológica, introduz nos seus processos especulativos a trama de relações pessoais e afectivas que a envolve, o que nos leva a experimentar o seu trabalho artístico por meio de várias escalas, distâncias e perspectivas. Mais do que um trabalho sobre o corpo, é um trabalho no e com o corpo.